Esta foi a minha primeira Copa do Mundo morando aqui na Cohab 5, em Carapicuíba, na Grande São Paulo. Eu não conheço meus vizinhos além do “bom dia”, mas as crianças do meu prédio, como eu as adoro.
Faltando 15 minutos para a partida entre Brasil e Bélgica começar nesta sexta-feira (6), tinha saído e encontrei algumas delas no pátio. “Quanto você acha que vai ser o jogo?”, perguntei. “Ah tia, 4 x 0 pro Brasil com gol do Neymar”. As mais novinhas já chutaram alto. Como sonham as almas que se principiam nas peripécias do futebol: “10 a 0” “12 a 1”.
Sorri e saí pensando que aquela garotada nunca tinha visto o Brasil ser campeão. Não entendo tão bem de futebol para fazer uma análise técnica. Mas me interesso pelo lado humano desse esporte, que sempre teve muito mais de emocional do que qualquer outra coisa na minha vida.
Sofri. Quando as bolas não entravam no gol, quando os passes estavam errados, meu coração ficava cada vez mais apertado.
A minha raiva no final do jogo com a derrota por 2 a 1, meio misturava com uma vontade de chorar, me fez fazer cena e vir até a janela de onde pude fotografar esse pôr do sol. E para minha surpresa, do pátio do meu prédio vieram gritos de vozes infantis: “Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor”.
Fiquei sem entender. Mesmo sem elas nunca terem visto uma seleção boa em campo, mesmo sem conseguir a classificação? Mas eram gritos incessantes e outras vozes se somaram depois ao coro, vindas das janelinhas que aqui são tão próximas: “Eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor”.
As coisas são sempre mais do que aparentam ser. A gente anda vivendo fases tão difíceis no Brasil, em diferentes aspectos. A gente anda mais cansado do que nunca, trabalhando mais do nunca e agora outra derrota (mais uma). Todavia, acredito que aprendi com as crianças aqui hoje.
Que nunca nos esqueçamos os motivos que temos de nos orgulhar de nós mesmos. Que sempre lembremos que juntos somos mais fortes. E que o poder real está no povo, nas periferias que correm, correm, correm, correm e … nem sempre chegam lá.
O futebol sempre ensina. Acho uma pena as pessoas que não conseguem ver além das partidas. Porque há poesia em tudo e talvez, melhor do que isso: há esperança. Há de ter esperança, por que se não, o que haverá?
Ana Beatriz Felicio é correspondente de Carapicuíba
anabeatrizfelicio@agenciamural.org.br
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